As militantes de Natal (RN) da Marcha Mundial das Mulheres organizaram duas ações para compor a campanha das 24 horas de ação em solidariedade feminista pela paz e contra a guerra, marcada para o dia 03 de junho.
Em preparação para a programação do sábado, aconteceu na sexta-feira (02) a roda de conversa “Nossos corpos e vidas não são territórios militares”. Procurando reunir diferentes mulheres que lutam por direitos e melhorias na vida das mulheres apenadas, o espaço contou com a participação de Maria da Glória (que já esteve em situação de privação de liberdade e que hoje é do projeto Transforma-se), Thalita Marianne (Motyrum Penitenciário, projeto combativo e atuante no cenário de cárcere no Estado) e Brena Monice (militante da MMM).
Na roda, estudantes e trabalhadoras dialogavam sobre os desafios da mulher em situação de cárcere e seu retorno à liberdade, sobre a militarização dos nossos corpos e a influência do sistema punitivo na vida das mulheres.
Entender e refletir sobre os processos de opressão e violências causados por um Estado inquisitivo nos ajuda a fazer frente aos cerceamentos institucionais e sociais causados pelo modelo patriarcal, punitivo e seletivo da nossa estrutura de segurança. Por isso, a mudança é muito mais um processo cultural do que legislativo. Não adianta a criação de leis vazias que não resolvam a problemática da violência, já que as nossas vidas precisam passar por uma transformação de paradigma em que o feminismo perpasse não só o nosso modo de enxergar o mundo, mas, principalmente, mude a lógica social vigente, seja aplicada no controle dos nossos corpos, na dominação de gênero, como também na limitação das nossas ações em casa, no trabalho, nos bancos escolares, na rua ou em qualquer lugar.
Dessa forma, se faz necessário encabeçar e incentivar a auto-organização de mulheres, a ocupação de espaços institucionais e cada vez mais ter uma postura que seja crítica frente às heranças marcantes do processo de inquisição das bruxas queimadas na Idade Média, o qual reflete-se até hoje nas nossas vidas.
Se somos as netas das bruxas que não conseguiram queimar, seremos também aquelas que destruirão as fogueiras contemporâneas presentes nesse sistema punitivo que insiste na perseguição seletiva, (in)justiça penal e ainda nas amarras de controle militar dos nossos corpos e territórios.
Dando continuidade a programação, no sábado (03) as militantes realizaram intervenções nas principais avenidas com panfletos, lambes e faixas nas passarelas dos viadutos visibilizando a temática da militarização.
Ao longo do dia e da atividade, dialogamos com a população sobre o contexto de golpismo, sobre as reformas neoliberais e os ataques conservadores à classe trabalhadora, às mulheres, à população negra, às juventudes.
As falas e as reflexões evidenciaram o contexto real que estamos vivendo no Brasil e no resto do mundo com governos de direita que muitas vezes se utilizam de intervenções militares, a xenofobia, o racismo, as guerras declaradas e não declaradas reforçando a necessidade de lutas coletivas e de transformações.
A atividade contou com a presença das mulheres jovens, militantes da economia solidária, mulheres negras, educadoras e mulheres de bairros populares. Uma intervenção pública que propõe a sociedade reflexões sobre o mundo que vivemos e o mundo que queremos.